segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Mário de Andrade

Canção



... de árvores indevassáveis
De alma escusa sem pássaros
Sem fonte matutina
Chão tramado de saudades
À eterna espera da brisa,
Sem carinhos... Como me alegrarei?

Na solidão solitude,
Na solidão entrei

Era uma esperança alada
Não foi hoje mas será amanhã,
Há-de ter algum caminho
Raio de sol promessa olhar
As noites graves do amor
O luar a aurora o amor... que sei!

Na solidão solitude
Na solidão entrei,
Na solidão perdi-me...

O agouro chegou. Estoura
No coração devastado
O riso da mãe-da-lua,
Não tive um dia! Uma ilusão não tive
Ternuras que não me viestes
Beijos que não me esperastes
Ombros de amigos fiéis
Nem uma flor apanhei

Na solidão solitude
Na solidão entrei,
Na solidão perdi-me
Nunca me alegrarei.

                                                Rio, 22 de dezembro de 1940

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