quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Edgar Allan Poe


O Palácio Assombrado



I



No mais verde de nossos vales,
habitado por anjos bons,
antigamente um belo e imponente palácio
— um palácio radiante — se erguia.
Nos domínios do rei Pensamento.
lá se achava ele!
Jamais um Serafim espalmou a asa
sobre um edifício só metade tão belo.


II


Estandartes amarelos, gloriosos, dourados,
sobre o seu telhado ondulavam, flutuavam.
(Isso, tudo isso, aconteceu há muito, muitíssimo tempo.)
E em cada brisa sua que soprava,
naqueles doces dias,
ao longo dos muros pálidos e empenachados,
se elevava um aroma alado.


III


Caminhantes que passavam por esse vale feliz
viam, através de duas janelas iluminadas,
espíritos que se moviam musicalmente
ao som de um alaúde bem afinado,
em torno de um trono onde, sentado,
(Porfirogênito!)
com majestade digna de sua glória,
aparecia o senhor do reino.


IV


E toda refulgente de pérolas e rubis
era linda porta do palácio,
através da qual passava, passava e passava,
a refulgir sem cessar,
uma turba de ecos cuja grata missão
era apenas cantar,
com vozes de inexcedível beleza,
o talento e o saber de seu rei.


V


Mas seres maus, trajados de luto,
assaltaram o alto trono do monarca;
(ah, lamentemo-nos, visto que nunca mais a alvorada despontará sobre ele, o desolado!)
e, em torno de sua mansão, a glória,
que, rubra, florescia,
não passa, agora, de uma história quase esquecida
dos velhos tempos já sepultados.


VI


E agora os caminhantes, nesse vale,
através das janelas de luz avermelhada, vêem
grandes vultos que se movem fantasticamente
ao som de desafinada melodia;
enquanto isso, qual rio rápido e medonho,
através da porta descorada,
odiosa turba se precipita sem cessar,
rindo — mas sem sorrir nunca mais.

                                         Edgar Allan Poe, trecho de A queda da Casa de Usher, Histórias Extraordinárias

........................................................................

"The Haunted Palace"

I

In the greenest of our valleys,
By good angels tenanted,
Once fair and stately palace --
Radiant palace --reared its head.
In the monarch Thought's dominion --
It stood there!
Never seraph spread a pinion
Over fabric half so fair.

II

Banners yellow, glorious, golden,
On its roof did float and flow;
(This --all this --was in the olden
Time long ago)
And every gentle air that dallied,
In that sweet day,
Along the ramparts plumed and pallid,
A winged odour went away.

III

Wanderers in that happy valley
Through two luminous windows saw
Spirits moving musically
To a lute's well-tuned law,
Round about a throne, where sitting
(Porphyrogene!)
In state his glory well befitting,
The ruler of the realm was seen.

IV

And all with pearl and ruby glowing
Was the fair palace door,
Through which came flowing, flowing, flowing
And sparkling evermore,
A troop of Echoes whose sweet duty
Was but to sing,
In voices of surpassing beauty,
The wit and wisdom of their king.

V

But evil things, in robes of sorrow,
Assailed the monarch's high estate;
(Ah, let us mourn, for never morrow
Shall dawn upon him, desolate!)
And, round about his home, the glory
That blushed and bloomed
Is but a dim-remembered story
Of the old time entombed.

VI

And travellers now within that valley,
Through the red-litten windows, see
Vast forms that move fantastically
To a discordant melody;
While, like a rapid ghastly river,
Through the pale door,
A hideous throng rush out forever,
And laugh --but smile no more.

Nenhum comentário:

Postar um comentário