Cavalo Alado
Noite no bosque enluarado, onde a neblina paira sobre o solo, como um lençol de seda pagão enviado pelos deuses. Murmúrio das feras e dos pássaros, misturado ao lamento dos desesperados, donos da noite, amantes da escuridão, perdidos da luz.
Espectros e sombras, árvores ao sol, mutantes nas trevas, esculpidas pela sombra-luz do luar.
Paisagem distorcida, interpretada como um sonho-pesadelo onde imagens reais fundem-se com o imaginário, tornando-se um quadro surrealista cheio de verdades e mentiras.
Foge cavalo alado, foge, pois os humanos vêm, trazendo junto a destruição, elemento natural entre eles. Destruirão você, que é puro como uma criança em sua inocência. Tingirão o branco das suas asas com o vermelho da morte e pisarão as flores que tanto lhe encantam. Foge, por favor, foge!
Mas por que você não foge? Fica, e fica impassível a pastar, sereno como o riacho que corta a mata com sua lâmina de águas reluzentes.
O que você pretende, ficando aqui à espera de criaturas tão desprezíveis, que certamente lhe transformarão em um triste troféu para lhes alimentar a vaidade?
Escute! Ouça! Estão perto! Não reconhece o som da morte caminhando sobre a relva? Pela última vez eu lhe imploro: foge, foge para a mais alta das montanhas, onde não possam lhe alcançar!
Mas... não. Não há mais tempo. Eles chegam, trazendo junto o seu triste destino. Por que não partiu quando lhe pedi?
Agora você nada mais é do que uma lembrança em minha mente, como uma fotografia amarelada pelo tempo.
Sentirei sua falta, cavalo alado, pois com você morreu uma parte de mim: o meu sonho de criança. Com sua inocência morreu a minha também.
Agora sou adulto!
Mas, pensando bem, não como os que lhe mataram, pois sua lembrança ficou marcada também em meu coração, que baterá pensando em você até o fim dos meus dias.
Isso porque, você morreu em meu sonho de criança, mas sua memória viverá em meu sonho de adulto.
Adeus!
Nenhum comentário:
Postar um comentário