quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Echo And The Bunnymen

The Killing Moon


Blade Runner


"Eu vi coisas que vocês humanos não acreditariam.
Naves de ataque em chamas perto da costa de Orion.
Eu vi raios C resplandecentes na escuridão do portal Tan Hauser.
 Todos estes momentos se perderão no tempo, como lágrimas na chuva.
 Hora de morrer."


Madredeus

Ao Crepúsculo - Onde é que está o meu Amor?


O tempo parou
E nada mudou
E a noite caiu
E a lua sorriu
E o fogo acendeu
E a porta bateu
E o tempo passou
E o amor não voltou
Onde é que está o meu amor
O meu amor onde é que foi
Alguém me diga por favor
Onde é que foi o meu amor
Amor, amor, amor, amor
Onde é que está o meu amor
O meu amor, o meu amor
O meu amor onde é que foi
E o amor não voltou
E o tempo passou
E a porta bateu
E o fogo acendeu
E a lua sorriu
E a noite caiu
E nada mudou
E o tempo parou

Composição: Pedro Ayres Magalhães

The Smiths

How Soon is Now


I am the son
And the heir
Of a shyness that is criminally vulgar
I am the son and heir
Of nothing in particular

You shut your mouth
How can you say
I go about things the wrong way ?
I am Human and I need to be loved
Just like everybody else does

I am the son
And the heir
Of a shyness that is criminally vulgar
I am the son and heir
Oh, of nothing in particular

You shut your mouth
How can you say
I go about things the wrong way ?
I am Human and I need to be loved
Just like everybody else does

There's a club, if you'd like to go
You could meet somebody who really loves you
So you go, and you stand on your own
And you leave on your own
And you go home, and you cry
And you want to die

When you say it's gonna happen "now"
Well, when exactly do you mean ?
See I've already waited too long
And all my hope is gone

You shut your mouth
How can you say
I go about things the wrong way ?
I am Human and I need to be loved
Just like everybody else does

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Paul Verlaine

A Angústia


Nada em ti me comove, Natureza, nem
Faustos das madrugadas, nem campos fecundos,
Nem pastorais do Sul, com o seu eco tão rubro,
A solene dolência dos poentes, além.

Eu rio-me da Arte, do Homem, das canções,
Da poesia, dos templos e das espirais
Lançadas para o céu vazio pelas catedrais.
Vejo com os mesmos olhos os maus e os bons.

Não creio em Deus, abjuro e renego qualquer
Pensamento, e nem posso ouvir sequer falar
Dessa velha ironia a que chamam Amor.

Já farta de existir, com medo de morrer,
Como um brigue perdido entre as ondas do mar,
A minha alma persegue um naufrágio maior.



 Paul Verlaine, in "Melancolia" Tradução de Fernando Pinto do Amaral

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"L'angoisse"

Nature, rien de toi ne m’émeut, ni les champs
Nourriciers, ni l’écho vermeil des pastorales
Siciliennes, ni les pompes aurorales,
Ni la solennité dolente des couchants.

Je ris de l’Art, je ris de l’Homme aussi, des chants,
Des vers, des temples grecs et des tours en spirales
Qu’étirent dans le Ciel vide les cathédrales,
Et je vois du même œil les bons et les méchants.

Je ne crois pas en Dieu, j’abjure et je renie
Toute pensée, et quant à la vieille ironie,
L’Amour, je voudrais bien qu’on ne m’en parlât plus.

Lasse de vivre, ayant peur de mourir, pareille
Au brick perdu jouet du flux et du reflux,
Mon âme pour d’affreux naufrages appareille.

Mario Quintana

A Rua dos Cataventos


Da vez primeira em que me assassinaram,
Perdi um jeito de sorrir que eu tinha.
Depois, a cada vez que me mataram,
Foram levando qualquer coisa minha.

Hoje, dos meus cadáveres eu sou
O mais desnudo, o que não tem mais nada.
Arde um toco de vela amarelada,
Como único bem que me ficou.

Vinde! Corvos, chacais, ladrões de estrada!
Pois dessa mão avaramente adunca
Não haverão de arracar a luz sagrada!

Aves da noite! Asas do horror! Voejai!
Que a luz trêmula e triste como um ai,
A luz de um morto não se apaga nunca!

Martha Medeiros

A Dor Que Dói Mais

          Trancar o dedo numa porta dói. Bater com o queixo no chão dói. Torcer o tornozelo dói. Um tapa, um soco, um pontapé, doem. Dói bater a cabeça na quina da mesa, dói morder a língua, dói cólica, cárie e pedra no rim. Mas o que mais dói é saudade.

          Saudade de um irmão que mora longe. Saudade de uma cachoeira da infância. Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais. Saudade do pai que já morreu. Saudade de um amigo imaginário que nunca existiu. Saudade de uma cidade. Saudade da gente mesmo, quando se tinha mais audácia e menos cabelos brancos. Doem essas saudades todas.

          Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama. Saudade da pele, do cheiro, dos beijos. Saudade da presença, e até da ausência consentida. Você podia ficar na sala e ele no quarto, sem se verem, mas sabiam-se lá. Você podia ir para o aeroporto e ele para o dentista, mas sabiam-se onde. Você podia ficar o dia sem vê-lo, ele o dia sem vê-la, mas sabiam-se amanhã. Mas quando o amor de um acaba, ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter.

          Saudade é não saber. Não saber mais se ele continua se gripando no inverno. Não saber mais se ela continua clareando o cabelo. Não saber se ele ainda usa a camisa que você deu. Não saber se ela foi na consulta com o dermatologista como prometeu. Não saber se ele tem comido frango de padaria, se ela tem assistido as aulas de inglês, se ele aprendeu a entrar na Internet, se ela aprendeu a estacionar entre dois carros, se ele continua fumando Carlton, se ela continua preferindo Pepsi, se ele continua sorrindo, se ela continua dançando, se ele continua pescando, se ela continua lhe amando.

          Saudade é não saber. Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos, não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento, não saber como frear as lágrimas diante de uma música, não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.

          Saudade é não querer saber. Não querer saber se ele está com outra, se ela está feliz, se ele está mais magro, se ela está mais bela. Saudade é nunca mais querer saber de quem se ama, e ainda assim, doer.
 

Lágrimas e Chuva


Eu perco o sono e choro
Sei que quase desespero
Mas não sei por que
A noite é muito longa
Eu sou capaz de certas coisas
Que eu não quis fazer

Será que alguma coisa
Nisso tudo faz sentido
A vida é sempre um risco
Eu tenho medo do perigo

Lágrimas e chuva
Molham o vidro da janela
Mas ninguém me vê
O mundo é muito injusto
Eu dou plantão dos meus problemas
Que eu quero esquecer
Será que existe alguém
Ou algum motivo importante
Que justifique a vida
Ou pelo menos esse instante

Eu vou contando as horas
E fico ouvindo passos
Quem sabe o fim da história
De mil e uma noites
De suspense no meu quarto

Composição: George Israel/Bruno Fortunato/Leoni

Fagundes Varela

Tristeza


Eu amo a noite com seu manto escuro
De tristes goivos coroada a fronte
Amo a neblina que pairando ondeia
Sobre o fastígio de elevado monte.

Amo nas plantas, que na tumba crescem,
De errante brisa o funeral cicio:
Porque minh’alma, como a sombra, é triste,
Porque meu seio é de ilusões vazio.

Amo a desoras sob um céu de chumbo,
No cemitério de sombria serra,
O fogo-fátuo que a tremer doideja
Das sepulturas na revolta terra.

Amo ao silêncio do ervaçal partido
De ave noturna o funerário pio,
Porque minh’alma, como a noite, é triste,
Porque meu seio é de ilusões vazio.

Amo do templo, nas soberbas naves,
De tristes salmos o troar profundo;
Amo a torrente que na rocha espuma
E vai do abismo repousar no fundo.

Amo a tormenta, o perpassar dos ventos,
A voz da morte no fatal parcel,
Porque minh’alma só traduz tristeza,
Porque meu seio se abrevou de fel.

Amo o corisco que deixando a nuvem
O cedro parte da montanha, erguido,
Amo do sino, que por morto soa,
O triste dobre na amplidão perdido.

Amo na vida de miséria e lodo,
Das desventuras o maldito seio,
Porque minh’alma se manchou de escárnios,
Porque meu seio se cobriu de gelo.

Amo o furor do vendaval que ruge,
Das asas negras sacudindo o estrago;
Amo as metralhas, o bulcão de fumo,
De corvo as tribos em sangrento lago.

Amo do nauta o doloroso grito
Em frágil prancha sobre mar de horrores,
Porque meu seio se tornou de pedra,
Porque minha’alma descorou de dores.

O céu de anil, a viração fagueira,
O lago azul que os passarinhos beijam,
A pobre choça do pastor no vale,
Chorosas flores que ao sertão vicejam,

A paz, o amor, a quietação e o riso
A meus olhares não têm mais encanto,
Porque minh’alma se despiu de crenças,
E do sarcasmo se embuçou no manto.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Clarice Lispector



          Minha força está na solidão. Não tenho medo nem de chuvas tempestivas nem de grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da noite.


Vinícius de Moraes

Dialética



                                       É claro que a vida é boa
                                       E a alegria, a única indizível emoção
                                       É claro que te acho linda
                                       Em ti bendigo o amor das coisas simples
                                       É claro que te amo
                                       E tenho tudo para ser feliz
                                       Mas acontece que eu sou triste...

                                                                      Vinícius de Moraes, in Para viver um grande amor.

Kurt Cobain



“Se o meu sorriso mostrasse o fundo de minha alma muitas pessoas ao me verem sorrindo chorariam comigo.”


García Lorca

Canção do Cavaleiro


                                               Córdoba,
                                               distante e só.

                                               Égua negra, lua grande,
                                               e azeitonas no alforje.
                                               Embora saiba os caminhos
                                               nunca chegarei a Córdoba.

                                               Pelo prado, pelo vento,
                                               égua negra, lua rubra.
                                               A morte está me olhando
                                               de lá das torres de Córdoba.

                                               Ah, que caminho tão longo!
                                               Ah, eguinha corajosa!
                                               Ah, sei que a morte me espera,
                                               antes de chegar a Córdoba!


                                               Córdoba,
                                               distante e só.



                                                                                                  Tradução - Ferreira Gullar

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Canción de jinete

                                               Córdoba. 
                                               Lejana y sola.
 
                                               Jaca negra, luna grande,  
                                               y aceitunas en mi alforja.  
                                               Aunque sepa los caminos  
                                               yo nunca llegaré a Córdoba.
  
                                               Por el llano, por el viento,  
                                               jaca negra, luna roja.  
                                               La muerte me está mirando  
                                               desde las torres de Córdoba.
 
                                               ¡Ay que camino tan largo!  
                                               ¡Ay mi jaca valerosa!  
                                               ¡Ay que la muerte me espera,  
                                               antes de llegar a Córdoba!


                                               Córdoba. 
                                               Lejana y sola.

Pierre-Auguste Renoir

Pela primeira vez, postarei fotos coloridas. Mas é compreensível...
Meu favorito, o "Mestre do Impressionismo" merece!

Le Moulin de La Galette (1876)


La Promenade (1870)


Le Déjeuner des Canotiers (1881)


Les Demoiselles Cahen d'Anvers - Rose et Bleu (1881)


quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Paulo Leminski

Minifesto


                                                 ave a raiva desta noite
                                     a baita lasca fúria abrupta
                                                 louca besta vaca solta
                                     ruiva luz que contra o dia
                                                 tanto e tarde madrugastes

                                     morra a calma desta tarde
                                     morra em ouro
                                                 enfim, mais seda
                                     a morte, essa fraude,
                                                 quando próspera

                                                 viva e morra sobretudo
                                     este dia, metal vil,
                                                 surdo, cego e mudo,
                                     nele tudo foi e, se ser foi tudo,
                                                 já nem tudo nem sei
                                     se vai saber a primavera
                                                 ou se um dia saberei
                                     que nem eu saber nem ser nem era

                                                                                                            [do livro Distraídos Venceremos]

No Caminho com Maiakovski


....................................

"... Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
de nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E porque não dissemos nada,
 já não podemos dizer nada.”
.................................
                                    Trecho do poema "No caminho com Maiakovski

         Um poeta brasileiro, autor destes versos, tem sido confundido, com freqüência, nas quatro últimas décadas, com o poeta russo Wladimir Maiakovski.
         Confundem o seu nome com o de Maiakovski por causa da publicação do seu poema, justamente intitulado “No caminho, com Maiakovski”, incluído originalmente no seu livro O TOCADOR DE ATABAQUE, lançado em São Paulo no ano de 1969. A Editora Nova Fronteira, do Rio de Janeiro, ao publicar a poesia reunida de Eduardo Alves da Costa, em 1985, com o título geral NO CAMINHO, COM MAIAKOVSKI, transcreveu os versos iniciais (que é a única parte conhecida do poema) com esta nota explicativa : “A autoria deste poema tem sido atribuída, por equívoco, ao poeta russo Vladimir Maiakovski. O poema foi escrito por Eduardo Alves da Costa, em 1964.”
          Mas, assim mesmo, os equívocos continuaram e continuam, nos dias de hoje, por este Brasil desmemoriado afora.
(Shvoong/Home/Livros/>Poesia/>Resumo de O POEMA QUE MAIAKOVSKI NÃO ESCREVEU)

Canção do Mar

Uns preferem Amália Rodrigues, outros Dulce Pontes... não importa.
O que importa é que a canção é linda!


Fui bailar no meu batel
Além do mar cruel
E o mar bramindo
Diz que eu fui roubar
A luz sem par
Do teu olhar tão lindo.

Vem saber
Se o mar terá razão
Vem cá ver
Bailar meu coração.

Se eu bailar no meu batel
Não vou ao mar cruel
E nem lhe digo aonde eu fui cantar
Sorrir, bailar, viver, sonhar contigo.

Vem saber
Se o mar terá razão
Vem cá ver
Bailar meu coração.

Se eu bailar no meu batel
Não vou ao mar cruel
E nem lhe digo aonde eu fui cantar
Sorrir, bailar, viver, sonhar contigo.

P.S. - Eu prefiro Dulce Pontes.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

ERA

Devore Amante
Linda música, lindo solo de guitarra (lembra Pink Floyd)




 

Florbela Espanca

Fumo


                                      Longe de ti são ermos os caminhos,
                                      Longe de ti não há luar nem rosas,
                                      Longe de ti há noites silenciosas,
                                      Há dias sem calor, beirais sem ninhos!

                                      Meus olhos são dois velhos pobrezinhos
                                      Perdidos pelas noites invernosas…
                                      Abertos, sonham mãos cariciosas,
                                      Tuas mãos doces, plenas de carinhos!

                                      Os dias são Outonos: choram… choram…
                                      Há crisântemos roxos que descoram…
                                      Há murmúrios dolentes de segredos…

                                      Invoco o nosso sonho! Estendo os braços!
                                      E ele é, ó meu Amor, pelos espaços,
                                      Fumo leve que foge entre os meus dedos!…

Carlos Drummond de Andrade

José


E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?

E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio – e agora?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...

Mas você não morre,
você é duro, José!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?

Vinicius de Moraes


Canção para a amiga dormindo



Dorme, amiga, dorme
Teu sono de rosa
Uma paz imensa
Desceu nesta hora.
Cerra bem as pétalas
Do teu corpo imóvel
E pede ao silêncio
Que não vá embora.

Dorme, amiga, o sono
Teu de menininha
Minha vida é a tua
Tua morte é a minha.
Dorme e me procura
Na ausente paisagem...
Nela a minha imagem
Restará mais pura.

Dorme, minha amada
Teu sono de estrela
Nossa morte, nada
Poderá detê-la.

Mas dorme, que assim
Dormirás um dia
Na minha poesia
De um sono sem fim...
                                                                  

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Cecília Meireles


Canteiros

                    Quando penso em você,  fecho os olhos de saudade
                    Tenho tido muita coisa, menos a felicidade.
                    Correm os meus dedos longos, em versos tristes que invento
                    Nem aquilo a que me entrego já me traz contentamento.


                    Pode ser até manhã, cedo, claro feito dia
                    Mas nada do que me dizem me faz sentir alegria.
                    Eu só queria ter do mato um gosto de framboesa
                    Prá correr entre os canteiros e esconder minha tristeza.



                    Que eu ainda sou bem moço prá tanta tristeza
                    E deixemos de coisa, cuidemos da vida,
                    Pois se não chega a morte ou coisa parecida
                    E nos arrasta moço, sem ter visto a vida.

U2

Unforgettable Fire

 


quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Lord Byron

Uma taça feita de um crânio humano


                               Não recues! De mim não foi-se o espírito...
                               Em mim verás - pobre caveira fria -
                               Único crânio que, ao invés dos vivos,
                               Só derrama alegria.

                               Vivi! amei! bebi qual tu: Na morte
                               Arrancaram da terra os ossos meus.
                               Não me insultes! empina-me!... que a larva
                               Tem beijos mais sombrios do que os teus.

                               Mais vale guardar o sumo da parreira
                               Do que ao verme do chão ser pasto vil;
                                - Taça - levar dos Deuses a bebida,
                               Que o pasto do réptil.

                               Que este vaso, onde o espírito brilhava,
                               Vá nos outros o espírito acender.
                               Ai! Quando um crânio já não tem mais cérebro
                               ...Podeis de vinho o encher!

                               Bebe, enquanto inda é tempo! Uma outra raça,
                               Quando tu e os teus fordes nos fossos,
                               Pode do abraço te livrar da terra,
                               E ébria folgando profanar teus ossos.

                               E por que não? Se no correr da vida
                               Tanto mal, tanta dor ai repousa?
                               É bom fugindo à podridão do lado
                               Servir na morte enfim p'ra alguma coisa!...

                                                                                                          (Tradução de Castro Alves)

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Lines Inscribed upon a Cup Formed from a Skull

                                Start not --- nor deem my spirit fled;
                                In me behold the only skull,
                                From which, unlike a living head,
                                Whatever flows is never dull.
 
                                 I lived,  I loved,  I quaff'd, like thee:
                                 I died:  let earth my bones resign;
                                 Fill up --- thou canst not injure me;
                                 The worm hath fouler lips than thine.
 
                                 Better to hold the sparkling grape,
                                 Than nurse the earth-worm's slimy brood;
                                 And circle in the goblet's shape
                                 The drink of gods, than reptile's food.
 
                                 Where once my wit, perchance, hath shone,
                                 In aid of others' let me shine;
                                 And when, alas !   our brains are gone,
                                 What nobler substitute than wine?
 
                                 Quaff while thou canst: another race,
                                 When thou and thine, like me, are sped,
                                 May rescue thee from earth's embrace,
                                 And rhyme and revel with the dead.
 
                                 Why not?    Since through life's little day
                                 Our heads such sad effects produce;
                                 Redeem'd from worms and wasting clay,
                                 This chance is theirs, to be of use.